Eis como um artigo de jornal foi decisivo para o fim da parceria entre de Stan Lee e Jack Kirby

 

Stan Lee ao lado de um retrato de si mesmo em seu escritório em Beverly Hills, 2004.
Foto: (reprodução/internet)

Embora Stan Lee seja frequentemente creditado como o visionário por trás de muitos quadrinhos clássicos da Marvel, eles foram realmente o resultado de colaborações com artistas como Steve Ditko (mais conhecido por co-criar o Homem-Aranha) e Jack Kirby (que ajudou a originar o Pantera Negra, o X-Men, Capitão América, o Hulk e mais).

Eles não apenas ilustraram as histórias, mas também contestaram as afirmações de Lee de que certas ideias, enredos e até personagens inteiros eram seus.

O compromisso de Lee em se apresentar como o proeminente gênio da Marvel causou séria tensão com Ditko e Kirby, que acabaram deixando a Marvel para criar para outras lojas (Ditko em 1965; Kirby cinco anos depois).

Em sua nova biografia, True Believer: The Rise and Fall of Stan Lee, Abraham Riesman traça a decisão de Kirby de desertar de volta a um perfil de Lee de 1965 impresso no New York Herald Tribune.

Seu autor era Nat Freedland, um aspirante a Tom Wolfe que ficou deslumbrado com Lee e o mundo dos quadrinhos de Nova York.

Como tudo começou

Durante uma visita à sede da Marvel, Freedland testemunhou um encontro entre Lee e Kirby sobre a próxima edição de The Fantastic Four: Lee falou sobre pontos de trama com carisma vistoso, enquanto Kirby não disse nada, exceto o ruído ocasional de assentimento.

Mas de acordo com Mark Evanier, assistente que virou biógrafo de Kirby, toda a conversa foi encenada por Lee.

“Eles já haviam planejado esse problema de antemão e basicamente o estavam recriando para o repórter”, conta Evanier em um trecho de True Believer publicado pela Slate. “[Kirby] não ia levar nada para casa e desenhar essa história. A história foi feita para ele.”

Isso, é claro, não era do conhecimento de Freedland, que narrou a cena em seu artigo e descreveu Kirby como alguém que você confundiria com “o capataz assistente em uma fábrica de cintas” se o visse de passagem.

Lee, por outro lado, foi pintado como “um ultra-Madison Avenue, esguio sósia de Rex Harrison” que “sonhou com a ‘Era dos Quadrinhos da Marvel’”.

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O fim da farsa

Quando a matéria apareceu no jornal em uma manhã de domingo, a esposa de Kirby, Roz, o acordou e lhe contou sobre a farsa.

Kirby prontamente ligou para Lee para expor suas queixas. De acordo com Evanier, “os dois homens mais tarde lembraram que a colaboração nunca mais foi a mesma depois daquele dia, e era mais do que apenas um ego ferido no trabalho”.

Kirby esperou até que uma oportunidade se abriu na DC Comics em 1970, mas ele mencionou a história do New York Herald Tribune como um momento decisivo na deterioração de sua parceria com Lee.

Freedland, por sua vez, se sente mal por seu artigo ter causado tanta dor a Kirby. “Oh, pobre Kirby. O que diabos eu estava pensando?”, disse ele a Riesman.

Traduzido e adaptado por Agora Sabe

Fonte: Mental Floss